Coletiva de imprensa ocorre na sede
da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Além do ex-presidente, também foi preso o
ex-ministro Moreira Franco e mais oito pessoas.
Por Carlos Brito, G1 Rio

Foto: Reprodução
O Ministério
Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro afirma que a soma dos valores de
propinas recebidas ou prometidas ao suposto grupo criminoso chefiado pelo
ex-presidente Michel Temer ultrapassa R$ 1,8 bilhão. Além disso, os
procuradores da República sustentam que os investigados monitoravam agentes da
Polícia Federal.
As declarações
foram feitas em coletiva de imprensa na sede da Polícia Federal (PF) no Rio de
Janeiro, na tarde desta quinta-feira (21), dia em que foi deflagrada
"Operação Descontaminação", no âmbito da Lava Jato, que prendeu o ex-presidente e o
ex-ministro Moreira Franco.
"Essa foi a soma de valores que a organização criminosa teria desviado. (...) Esse valor é firmado e colocado na peça para mostrar o quão perigosa é a organização criminosa", explicou o procurador da República Eduardo El Hage, que complementou a afirmação dizendo que "não é por se tratar de um homem branco e rico que devemos ser lenientes com crimes cometidos dentro do Palácio Jaburu".
Na denúncia do MPF, há uma tabela
(veja abaixo) que associa o pagamento de propinas – prometidas ou desviadas –
às diferentes áreas de influência de que supostamente a organização criminosa
tinha controle.
Pedido de prisão cautelar do MPF detalha propinas do grupo que seria
chefiado por Temer — Foto: Reprodução
Conforme informado pela PF mais cedo,
a investigação decorreu de elementos colhidos nas operações Radioatividade,
Pripyat e Irmandade, embasadas em colaboração premiada firmada polícia. Os
mandados foram expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, cujo
juiz titular é Marcelo Bretas.
Ao explicar a operação desta quinta,
o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF, Rodrigo de Sousa
Alves, afirmou que as ações "ainda estão em andamento e duas pessoas ainda
estão sendo procuradas pela polícia".
A procuradora da República Fabiana
Schneider, que também integra a força-tarefa da Lava Jato no Rio, detalhou
alguns dos crimes detectados na investigação.
"O que foi verificado é que o coronel Lima, desde a década de 1980, já atua na Argeplan. É possível ver o crescimento da empresa a partir da atuação de Michel Temer. (...) Existe uma planilha que demonstra que promessas de pagamentos foram feitas ao longo de 20 anos para a sigla MT - ou seja, Michel Temer", esmiuçou a procuradora.
Também segundo Schneider, foi
verificado através de escutas telefônicas que coronel Lima, amigo de Temer,
"era a pessoa que intermediava as entregas de dinheiro a Michel
Temer". "Não há dúvidas quanto a isso", frisou a procuradora.
Além disso, a procuradora também
citou que foi identificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf) uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões, em outubro de 2018, na conta
da Argeplan. Isso ocorreu, disse ela, depois da prisão do coronel Lima, em
abril em 2018.
Participaram da conferência, que
durou mais de 1 hora, os procuradores da República da força-tarefa da Lava Jato
no Rio: José Augusto Vagos; Rodrigo Timóteo; Fabiana Scheneider; Eduardo El
Hage e Sérgio Pinel.
Pela Polícia Federal no Rio: o superintendente
da PF no Rio, Ricardo Saadi; o delegado regional executivo da PF, Tácio Muzzi;
o delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Rodrigo de Sousa Alves; o
delegado da PF Alexandre Bessa; e a da Delegacia de Repressão à Corrupção e
Crimes Financeiros, Paula Ortega Cibulski.
'Barbaridade'
Mais cedo, Temer falou
por telefone ao jornalista Kennedy Alencar, da CBN, no momento
em que havia sido preso. O ex-presidente afirmou que a prisão "é uma
barbaridade".

Momento em que o ex-presidente Michel Temer é abordado pela Polícia
Federal — Foto: Reprodução/TV Globo
A defesa de Moreira Franco manifestou
"inconformidade com o decreto de prisão cautelar" argumentando que o
ex-ministro estava em local conhecido e estava à disposição nas investigações
em curso. Também segundo a defesa, Moreira Franco prestou depoimentos e se
defendeu por escrito quando necessário.
"Causa estranheza o decreto de
prisão vir de juiz de direito cuja competência não se encontra ainda firmada,
em procedimento desconhecido até aqui", afirmou a defesa.
Resumo
·
Marcelo Bretas, juiz da Lava Jato do
Rio, ordenou a prisão de Michel Temer e mais 9 pessoas
·
Temer foi preso em São Paulo e é
trazido para o Rio
·
A investigação está relacionada às
obras da usina nuclear de Angra 3
·
O MPF diz que o consórcio responsável
pela obra pagou propina ao grupo de Temer
·
Reforma no imóvel da filha de Temer,
Maristela, teria sido usada para disfarçar o pagamento de propina
·
Bretas justifica prisão afirmando
que Temer é "líder da organização criminosa" e
"responsável por atos de corrupção"
·
São apurados os crimes de corrupção,
peculato e lavagem de dinheiro
Prisão de Temer
Temer foi abordado por policiais
federais na rua, em São Paulo. Desde quarta-feira (20), a PF tentava rastrear e
confirmar a localização de Temer, sem ter sucesso.
Por isso, a operação prevista para as
primeiras horas da manhã desta quinta-feira atrasou. Agentes estavam na porta
da casa de Temer e, ao perceberem a saída de um carro do local, o seguiram e
realizaram a prisão.

Ex-presidente Michel Temer chega ao aeroporto de Guarulhos após ser
preso pela Lava Jato — Foto: Reprodução/TV Globo
Temer foi levado para o Aeroporto de
Guarulhos, onde vai embarcar em um voo e será levado ao Rio de Janeiro em um
avião da Polícia Federal. Ele deve ficar na unidade da Polícia Militar de
Niterói, na região metropolitana do Rio. A prisão de Temer é preventiva, ou
seja, sem prazo determinado.
Por telefone, o advogado de Temer,
Brian Prado afirmou que ainda está estudando a decisão e não tem como fazer
nenhuma avaliação sobre o caso.
Quem Bretas mandou
prender
·
Michel Miguel Elias Temer Lulia, ex-presidente - preso
·
João Batista Lima Filho (coronel Lima), amigo de Temer e dono da Argeplan - preso
·
Wellington Moreira Franco, ex-ministro do governo Temer - preso
·
Maria Rita Fratezi, arquiteta e mulher do coronel Lima - presa
·
Carlos Alberto Costa, sócio do coronel Lima na Argeplan - preso
·
Carlos Alberto Costa Filho, diretor da Argeplan e filho de Carlos Alberto Costa
·
Vanderlei de Natale, sócio da Construbase
·
Carlos Alberto Montenegro Gallo, administrador da empresa CG IMPEX
·
Rodrigo Castro Alves Neves, responsável pela Alumi Publicidades
·
Carlos Jorge Zimmermann, representante da empresa finlandesa-sueca AF Consult - preso
A maioria das prisões são preventivas
(sem data para liberação). Apenas os mandados contra Rodrigo Castro Alves Neves
e Carlos Jorge Zimmermann são de prisão temporária, com duração de cinco dias,
que pode ser prorrogada.
Na sentença, o juiz Marcelo Bretas
disse que as prisões preventivas são necessárias para garantir a ordem pública.
Segundo ele, "uma simples
ligação telefônica ou uma mensagem instantânea pela internet são suficientes
para permitir a ocultação de grandes somas de dinheiro, como parece ter sido o caso".
Agentes também cumprem 26 mandados de
busca e apreensão no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná e no Distrito
Federal.
O que dizem os
alvos
Cristiano Benzota, advogado de defesa
do coronel Lima, disse por telefone que por enquanto não se manifestar sobre o
caso.
O MDB, partido do ex-presidente,
divulgou uma nota afirmando que "lamenta a postura açodada da Justiça à
revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não há
irregularidade por parte do ex-presidente da República e do ex-ministro".
"O MDB espera que a Justiça
restabeleça as liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao
contraditório e o direito de defesa", diz o texto.
Propina em Angra 3
Temer é um dos alvos da Lava Jato do
Rio. A prisão teve como base a delação de José Antunes
Sobrinho, dono da Engevix. O empresário disse à Polícia Federal
que pagou R$ 1 milhão em propina, a pedido do coronel João Baptista Lima Filho
(amigo de Temer), do ex-ministro Moreira Franco e com o conhecimento do
presidente Michel Temer. A Engevix fechou um contrato em um projeto da usina de
Angra 3.
Segundo o Ministério Público Federal
(MPF), a Engevix foi subcontratada porque as empresas que haviam vencido a
licitação não tinham "pessoal e expertise suficientes para a realização
dos serviços".
Os vencedores eram a AF Consult do
Brasil e a Argeplan, empresa do coronel Lima. "No curso do contrato,
conforme apurado, o coronel Lima solicitou ao sócio da empresa Engevix o
pagamento de propina, em benefício de Michel Temer", diz nota do MPF.
A força-tarefa da Lava Jato diz que a
propina foi paga no final de 2014 com transferências totalizando R$ 1,09 milhão
da empresa Alumi Publicidades para a empresa PDA Projeto e Direção
Arquitetônica, controlada pelo coronel Lima. As empresas fizeram contratos
fictícios para justificar as operações financeiras.
As investigações apontam que os
pagamentos feitos à empresa AF Consult do Brasil causaram o desvio de R$ 10,8
milhões, ao se levar em conta que a empresa não tinha capacidade técnica para
cumprir o contrato.
A ação desta terça é um desdobramento
das operações Radioatividade, Pripyat e Irmandade.
Outros inquéritos
Além desta investigação, Michel Temer responde a outros
nove inquéritos. Cinco deles tramitavam no Supremo Tribunal
Federal (STF) por terem sido na época em que o emedebista era presidente da
República e foram encaminhados à primeira instância depois que ele deixou o
cargo.
Os outros cinco foram autorizados
pelo ministro Luís Roberto Barroso em 2019, quando Temer já não tinha mais foro
privilegiado, e também foram enviados à primeira instância.
Carreira política
Michel Temer (MDB) foi o 37º
presidente da República do Brasil. Ele assumiu o cargo em 12 de maio
de 2016, em meio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, e
ficou até o final do mandato, encerrado em dezembro do ano passado.

Michel Temer conversa com Moreira Franco em dezembro de 2016 — Foto:
Marcos Corrêa/PR
Eleito vice-presidente na chapa de
Dilma duas vezes consecutivas, Temer chegou a ser o coordenador político da
presidente, mas os dois se distanciaram logo no começo do segundo mandato.
Formado em direito, Temer começou a
carreira pública nos anos 1960, quando assumiu cargos no governo estadual de
São Paulo. Ao final da ditadura, na década de 1980, foi deputado constituinte
e, alguns anos depois, foi eleito deputado federal quatro vezes seguidas.
Chegou a ser presidente do PMDB por 15 anos.
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